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Matéria de hoje Português, Assunto: Palavrões importantes

Scorpion-7

Usuário XPZ
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a ‘vulgarização’ do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

Pra caralho, por exemplo.

Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que ‘Pra caralho’? ‘Pra caralho’ tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende? No gênero do ‘Pra caralho’, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso ‘Nem fodendo!’. O ‘Não, não e não!’, assim como o ‘Absolutamente Não’ já soam sem nenhuma credibilidade.

O ‘Nem fodendo‘ é irretorquível, e liquida o assunto., te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo: ‘Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!’. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso.

Por sua vez, o ‘porra nenhuma!’ atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um ‘é PhD porra nenhuma!’, ou ‘ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!’. O ‘porra nenhuma’, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. Ou ainda, foi gerente de banco ‘porra nenhuma’ esse analfabeto!

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um ‘*****-que-pariu!‘, ou seu correlato *****-que-o-pariu! falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um ‘*****-que-o-pariu!’ dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso ‘vai tomar no cu!‘? E sua maravilhosa e reforçadora derivação ‘vai tomar no meio do seu cu!’. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável! , se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: ‘Chega! Vai tomar no meio do seu cu!’. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do português Vulgar: ‘Fodeu!‘. E sua derivação mais avassaladora ainda: ‘Fodeu de vez!‘. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? ‘Fodeu de vez!’. Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de ‘foda-se!‘ que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do ‘foda-se!‘? O ‘foda-se!’ aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Me liberta. ‘Não quer sair comigo? Então foda-se!’. ‘Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!’. O direito ao ‘foda-se!’ deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Foda-se!
 
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